Estudo reúne dados coletados nos últimos 20 anos e identifica lacunas de pesquisa em todos os biomas do país
Leptophis ahaetulla (Linnaeus, 1758). Foto: Domingos Rodrigues
A dispersão de informações sobre a biodiversidade se torna um grande problema para a Ciência em um país com enormes dimensões territoriais e milhares de pesquisadores. No Brasil, é comum que os cientistas façam campanhas de campo para coletar informações que já existem, mas ainda não foram disponibilizadas ao público, deixando outros ambientes descobertos. Esse problema leva a efeitos duradouros nas políticas públicas, como o gasto de dinheiro para realizar estudos semelhantes na mesma área.
Em um artigo* publicado na revista Science of the Total Environment, periódico multidisciplinar de alto impacto, 189 pesquisadores brasileiros de 57 instituições compilaram informações dos conjuntos de metadados sobre a biodiversidade brasileira coletados ao longo de 20 anos no âmbito dos principais programas de pesquisa sobre a biodiversidade, o PPBio (Programa de Pesquisa em Biodiversidade) e PELD (Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração).
Popular mané-magro. Foto: Domingos Rodrigues
A pesquisa visou identificar lacunas de conhecimento sobre a biodiversidade brasileira – aquilo que ainda não foi estudado. “ Descobrimos que a maioria dos metadados era sobre vertebrados, seguidos por plantas, invertebrados e fungos. A Caatinga foi o bioma com menos metadados e ainda há uma falta de informações sobre todos os biomas no Brasil, sendo que nenhum deles foi suficientemente amostrado.” , diz Aretha Guimarães, que liderou a pesquisa, sob supervisão de William Magnusson, ambos do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e do Programa Brasileiro de Biodiversidade do Ministério de Ciências, Tecnologia e Inovação.
Metadados são informações que descrevem conjuntos de dados, como por exemplo, quem os coletou, quando e onde os dados foram coletados, e sobre o que se tratam os dados. Os autores construíram um banco de dados exclusivo contendo 1904 metadados, a partir de repositórios online, e também da participação de pesquisadores das redes PPBio e PELD.
Sapo da espécie Hyalinobatrachium cappellei (Van Lidth de Jeude, 1904) e cobra Bothrops taeniatus (Wagler, 1824). Fotos: Domingos Rodrigues
Alguns números impressionam: metade dos metadados foram sobre vertebrados, enquanto mais da metade eram da Amazônia. Em outro extremo, menos de 1% dos metadados era sobre fungos - embora seja um dos reinos mais diversos, e menos de meio por cento dos metadados era do bioma Caatinga. Se considerarmos a quantidade de informação pela área de cada bioma, o bioma melhor amostrado seria o Pampa, seguido por Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado e, novamente em último, a Caatinga.
“É importante frisar que, historicamente, o país já investiu em diversas iniciativas amplas para levantamento de informações sobre a biodiversidade; entretanto esses dados não estão disponíveis para um público mais amplo. A disponibilização dos metadados é muito importante para evitar a repetição de pesquisas que já foram feitas.”, explica Guimarães.
Para Guimarães, a expectativa é que a publicação internacional, que conta com a colaboração de pesquisadores do Centro de Conhecimento em Biodiversidade, possa gerar implicações para um melhor direcionamento das pesquisas sobre conservação e manejo, e para a disponibilização de metadados de pesquisa, bem como para programas de alocação de recursos.
“A partir do nosso estudo, podemos planejar onde iremos realizar as próximas coletas da biodiversidade de forma a priorizar locais que não tenham nenhum tipo de amostragem, para assim preencher lacunas.”, completa a pesquisadora.
Link para o artigo original: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2024.174880
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