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Restauração do Rio Doce precisa considerar diversidade funcional das matas ciliares, afirmam pesquisadores

Foto: Lucas Perillo
Foto: Lucas Perillo

As matas ciliares do Rio Doce, um dos principais cursos d’água do sudeste brasileiro, abrigam uma diversidade funcional surpreendente, moldada por variações sutis de solo, clima e chuva ao longo do rio. Um novo estudo publicado na revista Austral Ecology mostra que as árvores dessas florestas seguem estratégias distintas para enfrentar estresses diários e os impactos do rejeito da mineração, revelando que cada trecho do rio possui combinações únicas de espécies adaptadas a condições locais específicas.


A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em colaboração com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), analisou 130 espécies de árvores em 15 trechos de mata ciliar ao longo do Rio Doce. Os resultados indicam que não existe uma única floresta do Rio Doce, mas várias, cada uma com sua própria lógica ecológica, o que tem implicações diretas para ações de restauração ecológica na região.


Estratégias ecológicas moldadas pelo ambiente


Utilizando o esquema de estratégias ecológicas conhecido como CSR (Competidoras, Tolerantes ao Estresse e Ruderais), os pesquisadores identificaram três grandes perfis de plantas. Em áreas mais frias e úmidas, predominam espécies “competidoras”, com folhas maiores e crescimento rápido. Já nas regiões mais quentes e secas, onde os solos são menos férteis, dominam espécies “tolerantes aos estresses”, de crescimento lento e madeira densa, capazes de sobreviver sob escassez de água e nutrientes.


“Essas diferenças apoiam resultados anteriores do grupo de cientistas que não existe uma única floresta do Rio Doce, mas várias, cada uma com sua própria lógica ecológica”, explica Wénita de Souza Justino, autora principal do estudo. “Compreender essa diversidade é essencial para qualquer esforço de restauração”.


Respostas distintas entre árvores adultas e juvenis


O estudo também revelou que mudas e árvores adultas não reagem da mesma forma aos filtros ambientais. Enquanto as árvores maduras refletem mais as condições químicas do solo, como a disponibilidade de nutrientes, as jovens são fortemente influenciadas pela textura do solo, que regula o acesso à água e ao oxigênio. Segundo Daniel Negreiros, coautor do artigo, “essa diferença entre estágios de vida mostra que o sucesso da restauração depende tanto da escolha das espécies quanto da compreensão do tipo de solo onde elas serão plantadas”.


Foto: Geraldo W. Fernandes
Foto: Geraldo W. Fernandes

Implicações para a restauração do Rio Doce


Os resultados apontam que ações de restauração ecológica na bacia do Rio Doce devem abandonar a ideia de uma “receita única”. Em vez de aplicar o mesmo conjunto de espécies em toda a extensão do rio, é necessário fazer uso de múltiplos ecossistemas de referência, ajustados às condições locais de clima e solo. “Se quisermos restaurar essas florestas de forma duradoura e privilegiar a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas, precisamos respeitar sua diversidade funcional”, reforça Geraldo Fernandes, líder do grupo de pesquisa.


A pesquisa integra o Centro de Conhecimento em Biodiversidade e recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).

 
 
 

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