Restauração de ecossistemas no Brasil deve considerar a biodiversidade, alerta novo policy brief
- Elias Fernandes

- 30 de jul.
- 2 min de leitura

O Centro de Conhecimento em Biodiversidade (ICNT/CNPq/MCTI) publicou, na noite dessa terça-feira (29/7), um novo policy brief, que coloca a biodiversidade como protagonista nas ações de restauração de ecossistemas no Brasil. O documento, intitulado "Prioridades na Restauração de Ecossistemas no Brasil - Por que a Biodiversidade tem que ser Protagonista", direcionado a tomadores de decisão, alerta para os riscos do reducionismo nas estratégias de restauração ambiental e estabelece recomendações técnicas para o avanço do país no cenário internacional da sustentabilidade.
O policy brief, escrito por dezenas de pesquisadores, destaca que priorizar unicamente métricas como o sequestro de carbono ou o plantio de árvores, sem considerar a diversidade biológica e funcional dos ecossistemas, constitui retrocesso técnico e ameaça a resiliência ecológica. Segundo o texto, abordagens simplificadas podem resultar em restaurações apenas “estéticas”, as chamadas “pinturas de verde”, que são incapazes de garantir a multifuncionalidade, a estabilidade e os benefícios sociais dos ecossistemas restaurados.
Além disso, sem considerar a biodiversidade em ações de restauração, a perda de espécies e variabilidade genética pode ser identificada, bem como a degradação dos serviços ecossistêmicos, o aumento da vulnerabilidade a eventos climáticos extremos, os riscos de incêndios e crises sanitárias e o comprometimento da segurança hídrica, alimentar e do patrimônio cultural de comunidades tradicionais e indígenas.
Fotos: Geraldo W. Fernandes
O documento do Centro de Conhecimento em Biodiversidade também ressalta que há consenso científico de que ecossistemas diversos são mais produtivos, estáveis e resistentes a perturbações ambientais. Reduzir a restauração a critérios econômicos ou a poucas espécies de fácil manejo, assim, pode minar uma série de avanços e fragilizar a função ecológica das áreas restauradas. O policy brief ainda propõe:
Processos participativos e amplos, com protagonismo de especialistas e comunidades tradicionais nos processos decisórios;
Adoção de indicadores robustos de diversidade, integridade ecológica e conectividade de habitats;
Transparência na orientação de recursos públicos e privados, com incentivos diretos a projetos que incluam alta diversidade de espécies nativas;
Políticas de capacitação e monitoramento baseadas em ciência cidadã e protocolos reconhecidos nacional e internacionalmente;
Integração de saberes indígenas e comunitários, para promover justiça epistêmica e social.
Detentor de uma rica biodiversidade, o Brasil pode assumir liderança global em soluções baseadas na natureza, desde que priorize políticas públicas fundamentadas em ciência sólida, transdisciplinaridade e respeito à diversidade sociocultural. O policy brief enfatiza que comprometer a centralidade da biodiversidade nas estratégias de restauração é não só um erro técnico, mas também um retrocesso institucional e ambiental para o país.









Comentários