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O impacto dos insetos nas flores do campo rupestre

Flor de Microlicia congestiflora sendo comida por um besouro Conognatha compta. Crédito: Irene Gélvez-Zúñiga

Pesquisa recente realizada na Serra do Cipó, em áreas de campo rupestre, revelou novas descobertas sobre a relação entre plantas e insetos. Nesse caso, sobre os insetos que se alimentam de flores, fenômeno conhecido como florivoria.


O estudo, desenvolvido por pesquisadores do sítio de Pesquisas de Longa Duração nos Campos Rupestres da Serra do Cipó (PELD-CRSC), teve duração de 14 meses e quantificou a presença e a intensidade da florivoria ao longo de diferentes altitudes da serra, abordando como esse fenômeno varia de acordo com a elevação e a disponibilidade de flores.


A pesquisa revelou que 26% das plantas da comunidade apresentaram algum tipo de dano causado por insetos florívoros. Além de besouros e formigas, borboletas, vespas e até polinizadores conhecidos, como abelhas, também se alimentam de flores no campo rupestre. Foram quantificados os danos causados por insetos nas flores e analisadas características ligadas à atração de visitantes florais, como o número e o tamanho das flores produzidas, e a duração da floração.


Em cima, à esquerda, flor de Vellozia variabilis sendo comida por um gafanhoto, um besouro e uma formiga. À direita, Richterago sp. sendo comida por besouros e outros insetos. Embaixo, à esquerda, danos por insetos em Vellozia variabilis. E à direita, gráfico sobre o tamanho das flores e proporção da remoção de pétalas pela florivoria. Crédito: Irene Gélvez-Zúñiga


À medida que a elevação aumenta, as plantas produzem menos flores e por um período mais prolongado. Nas áreas de menor altitude, predominam as flores menores, enquanto nas áreas de maior altitude, predominam espécies de flores maiores.


Os insetos florívoros, como besouros e formigas, intensificam seu consumo nas áreas de maior elevação, onde há menos flores, embora sejam maiores. Esse comportamento foi especialmente notado em períodos de escassez de alimentos, sugerindo uma maior competição por esses recursos.


Implicações para a conservação e mudanças globais


A pesquisa destaca que as plantas em regiões montanhosas, onde a florivoria é mais intensa, podem ter sua reprodução comprometida, o que pode afetar a biodiversidade local e o equilíbrio dos ecossistemas. Essas descobertas são particularmente relevantes em um contexto de mudanças globais e de ações humanas sobre os ecossistemas de montanha. O campo rupestre, que já enfrenta incêndios criminosos, o impacto da mineração e a expansão agrícola, também está ameaçado pela PL 364/19, que propõe a retirada do status de proteção de 48 milhões de hectares de campos nativos em todo o país. 


Mapa da área de estudo com gradiente de elevação e representação esquemática da elevação das áreas de amostragens (A e B). Tipos de herbivoria em flores amostradas de acordo com o local de dano na flor (C). Crédito: Irene Gélvez-Zúñiga, Julio C. Santiago e Kenedy-Siqueira, W.

A pesquisa também contribui para o entendimento da florivoria como uma interação tão importante quanto a polinização, com implicações diretas para a reprodução das plantas e a manutenção da biodiversidade.


"A ausência de estudos focados na florivoria torna essa pesquisa inovadora e pioneira, pois ela fornece um registro detalhado da variação espacial e temporal dessa interação em uma comunidade diversa e ameaçada no topo de uma montanha tropical.", explica Irene Gélvez-Zúñiga, primeira autora do artigo.

Os resultados abrem caminho para futuras pesquisas sobre como o consumo de flores afeta a produção de frutos e sementes e se esse comportamento influencia a atração de polinizadores, o que afeta diretamente a produção de alimentos, a recuperação ambiental e até no manejo de espécies invasoras, tanto em sistemas naturais quanto em áreas urbanas.


A pesquisa foi publicada no Annals of Botany, uma revista britânica de alto impacto, como parte de uma edição especial sobre os desafios da reprodução das plantas em um mundo em transformação. Você pode acessá-la na íntegra aqui: https://doi.org/10.1093/aob/mcae155

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