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Estudo revela como solo e pragas influenciam a proliferação de plantas nativas em áreas degradadas

Copaíba-pau-d’óleo. Foto: Walisson Kenedy-Siqueira
Copaíba-pau-d’óleo. Foto: Walisson Kenedy-Siqueira

Solos degradados, sementes enterradas e a ação de insetos ajudam a explicar por que o pau d’olinho (Copaifera oblongifolia), uma planta nativa do Cerrado, se comporta como invasora em áreas alteradas pelo ser humano, dominando pastagens e beiras de estrada. Em estudo publicado na revista científica Tropical Ecology, pesquisadores mostraram que a espécie tira proveito de filtros do solo e da pressão de pragas para se espalhar com rapidez, ao contrário da copaíba-pau-d’óleo (Copaifera langsdorffii), sua parente arbórea, que mantém distribuição mais estável.


O trabalho, intitulado “Germination and initial growth of native plants potentially invasive under edaphic and biotic filters”, foi conduzido pelos pesquisadores Walisson Kenedy-Siqueira, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Geraldo Wilson Fernandes, da UFMG; e Marcílio Fagundes, da Unimontes, que investigaram o chamado “nicho de germinação” dessas duas espécies. Ao combinar experimentos em solos pobres ou ricos, com e sem enterro de sementes, e diferentes níveis de ataque de insetos e fungos, o grupo buscou entender por que o pau d’olinho se torna superabundante em áreas agrícolas abandonadas e outros ambientes perturbados.


Filtros ambientais e vantagem do pau d’olinho


Para se estabelecer, qualquer planta precisa vencer uma série de filtros ambientais, que incluem tanto características do solo quanto interações com outros organismos. No estudo, os cientistas avaliaram os filtros representados pela abundância e diversidade de nutrientes, profundidade e umidade do solo, e filtros bióticos, como a ação de insetos e fungos nas sementes.​


Os resultados mostram que o pau d’olinho germina mais rápido e com maior sucesso quando suas sementes são enterradas em solos pobres em nutrientes, cenário típico de áreas aradas ou que sofreram gradagem. Já em solos mais ricos, do tipo eutrófico, e com sementes expostas na superfície, a germinação da espécie foi nula, sugerindo que excesso de nutrientes e exposição direta ao sol podem barrar seu estabelecimento inicial.​


Pragas, fungos e implicações para o manejo

Fotos: Walisson Kenedy-Siqueira


O estudo também revelou que o ataque de um besouro reduziu drasticamente a sobrevivência de sementes das duas espécies, mostrando o peso dos inimigos naturais na regeneração. No caso da copaíba, a presença de um arilo, uma capa gordurosa que atrai dispersores, ajudou a proteger as sementes contra fungos, enquanto no pau d’olinho essa estrutura acabou prejudicando a germinação.​


Outra diferença marcante está na estratégia de crescimento: o pau d’olinho investe intensamente em folhas e ramos logo no início, o que favorece a ocupação rápida de áreas abertas e muito iluminadas. Segundo os autores, a combinação de solo degradado, revolvimento da terra e perda de inimigos naturais cria um “cenário perfeito” para que essa espécie nativa se comporte como invasora, o que exige que ações de restauração considerem não só o plantio de mudas, mas também o controle das condições do solo e das interações biológicas.

 
 
 

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