Asas de abelhas podem indicar o estado de saúde do planeta, revela estudo
- Elias Fernandes

- 12 de ago.
- 2 min de leitura
Segundo o estudo, três venações das asas das abelhas apresentam sensibilidade acentuada às condições ambientais. Fotos: Yumi Oki
O estado de saúde do meio ambiente pode ser identificado através das asas das abelhas, é o que revela um artigo recém-publicado pela revista internacional Sociobiology, que contou com a participação de pesquisadores do Centro de Conhecimento em Biodiversidade (INCT/CNPq/MCTI). No trabalho, cientistas demonstram que diferenças milimétricas entre as asas de abelhas africanizadas (Apis mellifera) funcionam como sensíveis sensores biológicos de estresse ambiental, abrindo caminho para um novo método de monitoramento ecológico em tempos de mudanças climáticas.
O estudo, que tem origem no mestrado do professor da rede municipal de Dom Joaquim Benoni Santos, supervisionado pelo professor Geraldo Fernandes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), analisou 1.050 abelhas criadas em apiários na cidade de Dom Joaquim, referência na produção de mel silvestre em Minas Gerais. Os pesquisadores identificaram que colmeias cercadas por vegetação nativa reduzida e baixa diversidade floral apresentaram maior assimetria entre as asas esquerda e direita, fenômeno conhecido como “assimetria flutuante”. Já em áreas ricas em cobertura vegetal, as abelhas desenvolveram asas simétricas e saudáveis.
As condições internas das colmeias também tiveram impacto direto no desenvolvimento dos insetos. Colmeias submetidas à umidade e temperaturas elevadas registraram aumento da mortalidade e alterações nas asas. Isso ocorreu porque a umidade elevada dificulta a regulação de temperatura corporal das abelhas e favorece doenças como a cria giz, além de aumentar a taxa de mortalidade quando associada ao calor intenso.
Outro achado crítico foi a alta infestação pelo ácaro Varroa destructor, principal parasita das abelhas, com índices de até 42% em algumas colmeias, valor oito vezes superior à média nacional, que varia entre 4% e 5%. O ácaro está diretamente associado ao aumento da assimetria das asas, gera perda de peso, prejudica o voo, a orientação e transporta vírus prejudiciais à colônia.

Asas como ferramenta de monitoramento
O estudo revelou que três das pequenas venações das asas das abelhas apresentam sensibilidade acentuada às condições ambientais e, por isso, funcionam como indicadores precisos de alterações e estresses no ambiente. Dessa forma, o monitoramento da simetria das asas surge como uma ferramenta prática e eficiente para avaliar a saúde das colmeias, proporcionando um método acessível aos apicultores e pesquisadores.
A pesquisa não apenas apresenta uma alternativa inovadora para o diagnóstico ambiental, como também reforça a necessidade de preservar a vegetação nativa e adotar práticas de manejo e monitoramento contínuo das colmeias. Assim, essas ações se mostram essenciais para garantir a sobrevivência das abelhas.
Responsáveis diretamente pela polinização e pelo equilíbrio ecológico, as abelhas desempenham papel crucial na produção de alimentos. Contudo, elas enfrentam taxas crescentes de mortalidade em escala global, resultado de diversos fatores ambientais, como perda de habitat, uso intensivo de pesticidas e efeitos do aquecimento global. Ao evidenciar que alterações sutis nas asas podem revelar a saúde do ambiente, o estudo oferece uma ferramenta estratégica para prever riscos e contribuir para a proteção desses polinizadores em um contexto de incertezas climáticas.











Comentários