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Rompimento da Barragem em Mariana coloca em risco as espécies de minhocas nativas

Estudo observou que ambiente impactado pelos rejeitos é extremamente desfavorável para as espécies nativas de minhocas. Foto: Marcos Paulo dos Santos
Estudo observou que ambiente impactado pelos rejeitos é extremamente desfavorável para as espécies nativas de minhocas. Foto: Marcos Paulo dos Santos

Quase dez anos se passaram desde o rompimento da barragem de Fundão da Samarco/Vale/BHP, em Mariana (MG), o maior desastre ambiental da mineração na história do Brasil. Milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração foram despejados em rios e florestas da bacia do Rio Doce, afetando centenas de quilômetros de ecossistemas. Passada uma década os efeitos desse desastre ainda estão muito presentes – especialmente no solo.


Um novo estudo, publicado na revista científica international Journal of Environmental Quality, com a participação de pesquisadores do Centro de Conhecimento em Biodiversidade (INCT/CNPq/MCTI), mostra que o solo das áreas impactadas continua profundamente alterado. E quem revela isso são as minhocas; embora pequenas, elas têm um papel essencial na manutenção da saúde dos solos e até da floresta.


As minhocas são conhecidas como “engenheiras do solo”, porque suas atividades, como cavar túneis e consumir matéria orgânica, ajudam a deixar a terra mais fértil, melhoram a infiltração da água e promovem o crescimento das plantas. Embora grande parte das minhocas brasileiras sejam ainda desconhecidas devido à falta de estudos científicos, elas são componentes vitais no funcionamento dos nossos campos, savanas e florestas. Quando elas desaparecem ou são substituídas por espécies invasoras, o funcionamento do solo é modificado e a geração de serviços no ecossistema, como fertilidade e nutrientes para as plantas, pode ficar comprometida.

Fotos: Marcos Paulo dos Santos

O estudo analisou as comunidades de minhocas nativas e invasoras em cinco municípios da bacia do Rio Doce, Mariana, Rio Casca, Ipatinga, Conselheiro Pena e Aimorés, comparando áreas impactadas pelo rejeito da mineração liberado pelo rompimento da barragem de Fundão com áreas de vegetação ao longo do rio Doce preservadas; ou seja, áreas de referência. Os resultados foram preocupantes.


Nas áreas atingidas pelos rejeitos, a biomassa e quantidade de minhocas nativas caiu cinco vezes em comparação com as áreas de referência. Isso significa que o ambiente impactado pelo rejeito é extremamente desfavorável para as espécies nativas, possivelmente por causa da compactação do solo, da perda de matéria orgânica e de mudanças físicas e químicas no solo causadas pelos rejeitos.


Enquanto isso, duas espécies de minhocas invasoras, Amynthas gracilis e Pontoscolex corethrurus, mostraram-se muito mais resistentes às novas condições do solo nas áreas impactadas. Ao tolerarem melhor os ambientes degradados, essas espécies acabam dominando o ambiente e excluindo as espécies nativas que resistiram ao rejeito ou dificultando o retorno das mesmas. Esse desequilíbrio pode tornar os solos menos férteis e menos capazes de sustentar a biodiversidade da região.


Outro ponto importante revelado pela pesquisa foi que a relação entre as características do solo e a presença de minhocas mudou completamente nas áreas impactadas. Em condições naturais, certos tipos de solo sustentam comunidades específicas de minhocas. Após o desastre, essa relação se perdeu – o que é mais uma evidência de que os ecossistemas ainda estão profundamente alterados.


Essas descobertas mostram que a recuperação natural da bacia do Rio Doce ainda está longe de acontecer mesmo após uma década com menos espécies de minhocas nativas, o solo perde sua capacidade de se regenerar, a vegetação tem mais dificuldade para se recuperar, e outras formas de vida também são afetadas.


Os pesquisadores reforçam a importância de continuar monitorando essas áreas, de desenvolver técnicas que ajudem a restaurar o solo e de entender como outros organismos do subsolo – como microrganismos e pequenos invertebrados – também estão sendo impactados. Este estudo é um alerta importante: os danos ao meio ambiente continuam. A recuperação completa da bacia do Rio Doce exigirá muitos anos de esforço, investimentos e políticas públicas comprometidas com a restauração ecológica.


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