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Mudanças climáticas e uso do solo ameaçam espécies endêmicas do Campo Rupestre

Foto: Marina Beirão
Foto: Marina Beirão

Uma revisão de estudos científicos, publicado na revista internacional “Journal Mountain Science” (https://doi.org/10.1007/s11629-023-8519-2) mostra um cenário preocupante para a biodiversidade.  O estudo fruto de uma colaboração internacional entre cientistas do Brasil (Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade de Brasília, Universidade Estadual de Montes Claros), Argentina (Universidade Nacional de Córdoba) e Espanha (Centro de Investigaciones sobre Desertificación) com o Centro de Conhecimento em Biodiversidade do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação investigou como o aquecimento global e as alterações no uso do solo podem potencialmente impactar a germinação de plantas no campo rupestre, um ecossistema brasileiro único e ameaçado. O estudo mostrou que aumento da temperatura e impactos no ambiente favorecem a germinação de plantas invasoras, enquanto espécies nativas são prejudicadas. A redução na capacidade de germinação das espécies nativas é muito sério e coloca em risco a produção de alimentos, os polinizadores e todas as interações que mantem a complexa rede da vida no topo das montanhas.

 

Principais Descobertas

1. Efeito da temperatura

No alto das montanhas, um leve aumento de temperatura pode ajudar as sementes a germinarem, "acordando" sua capacidade de brotar. Porém, se a temperatura aumentar mais do que o esperado pelas plantas nativas do topo das montanhas, essas plantas que não estão acostumadas àquela condição podem não se adaptar a tempo. Assim, o estudo em questão mostra como mudanças na temperatura podem alterar quais espécies conseguem crescer nesses ambientes delicados do campo rupestre:

  • O aumento da temperatura (de 20°C para 30°C) promoveu a germinação de espécies invasoras em aproximadamente 55%. 

  • Enquanto as espécies nativas não foram significativamente afetadas pelo aumento de temperatura, o maior sucesso germinativo das invasoras pode resultar na eliminação das nativas.

 

2. Efeito das condições de escuro (enterramento de sementes)

Quando o solo do campo rupestre é revolvido por máquinas agrícolas ou outras atividades humanas, ele perde sua camada superficial natural e as sementes são soterradas. Isso pode atrapalhar a germinação de algumas sementes que precisam de luz para começar a crescer (germinar). Assim, o manejo do solo pelo homem pode influenciar diretamente no nascimento de novas plantas, selecionando somente aquelas mais aptas a germinar na ausência de luz. O que o estudo mostra:

  • A ausência de luz reduziu a germinação de espécies nativas em até 90%, com impacto mais severo em espécies endêmicas. 

  • Espécies invasoras não foram afetadas pela escuridão, indicando maior adaptação a distúrbios do solo, como os causados por atividades humanas. 

 

3. Tamanho das Sementes

Sementes pequenas, mais sensíveis a luz e temperatura, podem germinar rápido, mas podem perder essa capacidade quando são soterradas. Já as sementes grandes, demoram mais para germinar, mas são mais resistentes. Além das sementes maiores aguentarem melhor as mudanças do ambiente ainda podem gerar brotos mais vigorosos, ou seja, tem mais chances de se tornarem plantas adultas. De forma alarmante, o estudo mostrou o seguinte:

  • Sementes maiores de espécies invasoras tiveram maior sucesso germinativo sob temperaturas elevadas. 

  • Para espécies endêmicas, sementes menores foram menos prejudicadas pelo escuro, mas ainda assim com baixa taxa de germinação. 


Implicações para a Conservação

As mudanças climáticas e a degradação do solo facilitam a invasão de espécies exóticas no campo rupestre, colocando em risco a biodiversidade única desse ecossistema e todos os serviços ecossistêmicos resultantes desta interação, como produção de alimentos, polinização, controle de pragas e até a geração de energia.

 

Recomendações

  • Monitoramento contínuo de áreas perturbadas. 

  • Desenvolvimento de estratégias de restauração ecológica que considerem as necessidades específicas de germinação das espécies nativas. 

  • Políticas públicas para reduzir impactos antrópicos resultantes de atividades como mineração e expansão urbana desordenada. 

 

Segundo o autor principal do estudo, Dr. Kenedy-Siqueira: 

"Nossos resultados destacam a vulnerabilidade do campo rupestre. A conservação desse ecossistema requer ações urgentes para mitigar os efeitos combinados das mudanças climáticas e da perda de habitat." 

 

Sobre o Campo Rupestre: 

O campo rupestre é um ecossistema montanhoso brasileiro conhecido por sua alta biodiversidade e endemismo. Sua vegetação adaptou-se a condições extremas, como solos pobres e alta irradiação solar, mas enfrenta ameaças crescentes devido às atividades humanas.

 

Contato para Imprensa 

kenedy.siqueira@gmail.com (Kenedy-Siqueira, Walisson)

gw.fernandes@gmail.com (Fernandes, Geraldo Wilson)

 

 

Produzido por:

Kenedy-Siqueira, W.

Fernandes, G. W.

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