Mudanças climáticas e desastre de Mariana podem reduzir habitat de minhocas invasoras na Bacia do Rio Doce, aponta estudo
- biodiv2023
- 9 de jul.
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Atualizado: 9 de jul.

Contrariando a expectativa de que espécies invasoras sempre se beneficiam de perturbações ambientais, pesquisadores do Departamento de Genética, Ecologia & Evolução da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) descobriram que as mudanças climáticas futuras podem levar à redução do habitat adequado para a maioria das espécies de minhocas exóticas na Bacia do Rio Doce. O estudo, que contou com a participação de pesquisadores do Centro de Conhecimento em Biodiversidade (INCT/CNPq/MCTI), intitulado "Climate-driven distribution shifts of invasive earthworm species in a river basin affected by mining tailings", foi publicado pela Environmental Monitoring and Assessment e indica que o impacto do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, pode agravar essa redução em áreas florestais.
A pesquisa, de autoria de Flávio Mariano Machado Mota, Débora Lima Santos, Walisson Kenedy Siqueira, Yumi Oki e Geraldo Wilson Fernandes, utilizou modelos computacionais avançados (modelagem de nicho ecológico) para prever como a distribuição de cinco espécies de minhocas invasoras será afetada por cenários climáticos futuros (até 2050) e pela degradação da paisagem causada pelo desastre de 2015. Minhocas invasoras são uma grande ameaça, pois podem competir com a fauna nativa, alterar a estrutura e a química do solo e prejudicar o ecossistema
Os resultados mostram que, em um cenário climático pessimista, a maioria das espécies estudadas deve sofrer contrações em suas áreas climaticamente adequadas. A espécie Polypheretima elongata, por exemplo, pode perder até 30,2% de seu habitat. Quando os cientistas analisaram o efeito combinado da perda de vegetação causada pela lama da barragem, a redução de habitat adequado para as minhocas dentro de áreas florestais foi, em média, 44% maior.
"Nossa expectativa inicial era que essas espécies super resistentes se expandissem com as perturbações, mas os modelos indicam que o futuro pode ser hostil até para elas", explica Flávio Mota, autor principal do estudo. "O aumento da aridez e as temperaturas extremas projetadas para a Bacia do Rio Doce podem criar um ambiente que desafia a sobrevivência até mesmo dos invasores, que dependem da umidade do solo para respirar", afirma.
Apesar da tendência geral de redução, o estudo identificou uma exceção notável: a espécie Dichogaster bolaui deve manter seu habitat em praticamente toda a bacia, independentemente do cenário. Além disso, os modelos apontam que a porção sudoeste da Bacia do Rio Doce se tornará uma espécie de "refúgio climático" para todas as cinco espécies invasoras, indicando um alto potencial de invasão futura nessa região.
"Esses resultados são uma faca de dois gumes. A possível diminuição de invasores é um sintoma da severa degradação ambiental que está por vir. Se até as espécies mais resistentes sofrem, a situação das espécies nativas, muito mais sensíveis, é extremamente preocupante", alertam os pesquisadores. "Isso reforça a urgência de estratégias de restauração ecológica e de um monitoramento direcionado para prevenir a dominância dessas espécies, especialmente no 'hotspot' de invasão que identificamos no sudoeste da bacia", explicam.
As descobertas destacam a necessidade de ações de manejo para controlar as minhocas invasoras e de restauração da vegetação nativa como uma barreira para mitigar os impactos das mudanças climáticas.



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