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O potencial facilitador das espécies nativas na restauração de áreas mineradas

Canela-de-ema (Vellozia epidendroides)

O Campo Rupestre é um ecossistema presente em algumas serras no Brasil com alta riqueza de espécies e endemismo. Esse ecossistema único tem sido pressionado pela mineração, pela construção de estradas e pelo pastoreio excessivo, além dos impactos das mudanças climáticas e da invasão de espécies não-nativas, acelerando a degradação e perda de biodiversidade. 


Dentre todas essas pressões ambientais causadas pelo ser humano, os impactos gerados pela extração de minérios são os mais intensos, diretos, rápidos e, muitas vezes, permanentes nas áreas naturais. A mineração a céu aberto pode extrair os corpos minerais próximos à superfície, alterando a topografia e a drenagem, causando erosão, poluição do solo e da água, fragmentação florestal, perda de habitats e biodiversidade e, como resultado, a falha dos serviços ecossistêmicos. Diante desses impactos, intervenções que visem a restauração de áreas degradadas são cada vez mais necessárias e urgentes.


Para restaurar o Campo Rupestre é necessário reintroduzir espécies nativas. Isso acontece porque as plantas desse ecossistema montanhoso são muito específicas, adaptadas a microclimas extremos nas altitudes, como a alta exposição solar e baixa umidade. A reintrodução de espécies pode encurtar o tempo de restauração do ecossistema, que costuma ser complexo e exigir longos períodos de monitoramento. 


“Algumas espécies facilitam a permanência e chegada de novas nativas ao habitat em recuperação. A espécie canela-de-ema (Vellozia epidendroides), por exemplo, que é uma planta predominante no Campo Rupestre, tem potencial para facilitar a sobrevivência de outras espécies vegetais que vivem ao seu redor.”, explica Walisson Kenedy-Siqueira, ecólogo e pesquisador da UFMG.

A importância dessa espécie de canela-de-ema em projetos de restauração ecológica é potencialmente alta. Mas faltava ainda descobrir quais espécies exatamente ela beneficiaria na reintrodução aos campos rupestres. Em um trabalho publicado essa semana em uma conceituada revista científica internacional, Plant and Soil, um grupo de cientistas da UFVJM, UFMG e UFV avaliou a sobrevivência e o desempenho fisiológico dessa espécie de canela-de-ema em associação a outras espécies nativas: Cipocereus minensis, conhecido como quiabo-da-lapa; Apochloa molinioides, conhecida também como Panicum; e Vellozia resinosa, outra espécie de canela-de-ema.  

Cipocereus minensis, conhecido como quiabo-da-lapa.
“Quando uma planta se estabelecesse em um determinado habitat, ela pode modificar aquele local. Se ela cria um microambiente mais favorável ao seu redor para outras plantas, podemos considerá-la uma planta facilitadora", explica Walisson, que é um dos autores da pesquisa. 

Essas melhorias do habitat podem incluir redução da competição por luz, maior disponibilidade de nutrientes, associações ecológicas positivas com fungos, dentre muitos outros benefícios. A ciência ainda sabe pouco sobre a relação facilitadora dessas plantas nativas para o ecossistema dos campos rupestres, por isso, a pesquisa publicada oferece resultados relevantes para o tema.


Apochloa molinioides

Experimento de campo em Diamantina-MG


Em uma área de Campo Rupestre  impactada pela extração superficial de minérios em Diamantina (MG), canelas-de-ema (Vellozia epidendroides) foram reintroduzidas de forma isolada e na companhia das três outras espécies. Foram feitas sete combinações entre a canela-de-ema (Vellozia epidendroides) e as demais espécies e, na sequência, os pesquisadores verificaram, ao longo de um ano, como as plantas cresciam e se comportavam, medindo mensalmente a altura e o surgimento de novos ramos. 



Grande parte das combinações de espécies reintroduzidas foram efetivas. A combinação das duas espécies de canela-de-ema (V. epidendroides e V. resinosa) foi a mais eficaz nos estudos de campo. Plantar juntas as diferentes espécies também beneficiou o surgimento de novos brotos, mostrando a eficiência da técnica para manutenção de espécies em projetos de restauração.


Os resultados da pesquisa evidenciaram o papel das canelas-de-ema como facilitadoras na reintrodução de outras espécies nativas em áreas mineradas de Campo Rupestre. E a importância do resgate e reintrodução das espécies nativas como técnica de restauração. 


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